24/09/2010

Papo de Ônibus - 08

Tenho uma amiga que diz que se eu for na esquina de qualquer lugar do mundo e conversar cinco minutos com alguém descubro que essa pessoa ou é, ou conhece, ou tem família, ou tem um amigo, ou já foi, ou no mínimo já ouviu falar em Duas Estradas, minha amada e famosa cidade, rsss (ok, o famosa é por minha conta).
Pois bem, meu Papo de Ônibus hoje foi mais ou menos assim.
Estava em pé no ônibus, esperando aparecer um lugarzinho pra sentar, o que aconteceu pertinho da Praça dos Muriçocas, em Miramar. Sento ao lado de uma senhora de baixa estatura, branquinha, cabelos de igual cor e sorriso fácil, que estava com um cacho de banana madura dentro de um saco transparente (tipo aqueles de supermercado), no colo, achei engraçado, mas não comentei nada.
Ela tinha acabado de tirar um segundo saco desse dito cacho e estava dobrando de uma forma toda especial, de modo que o saco ficou bem pequeno. Infelizmente não saberia aqui descrever o jeito como ela dobrava, mas fiquei prestando atenção pra aprender e ela percebeu.
Muito gentil perguntou: Voce quer aprender a dobrar desse jeito?
Disse que sim, que tinha um montão desses sacos lá em casa, e que seria ótimo porque ganharia um espaço enorme em meu armário. Ela riu e me ensinou.
Logo depois perguntei a ela quem a havia ensinado dobrar o saco daquela forma.
Minha tia, ela disse. Quando morei no interior, faz tempo. Minha tia morava perto da gente e de vez em quando me ensinava umas coisinhas.
Aí, a pergunta mágica. Que interior??? (minha amiga, quando ler isso aqui, vai morrer de rir, kkkk)
Ela disse: Sertãozinho.
E eu: Ah!! pertinho da minha terra.
E ela: Sua terra? Você é de onde?
Duas Estradas, falei.
Nesse momento, parece que liguei o botão do túnel do tempo da mulher. Olhinho brilhou e ela desatou a falar e lembrar das coisas de quando morou lá na região. Já, que , segundo ela, morou em Duas Estradas, Sertãozinho e Pirpirituba.
Eu já morei lá quando era criança, ela disse. Acho que nem era cidade, ainda. Tinha o armazém de tecido de seu Rozil (nem sei era esse o nome, ou o dono), era na esquina, perto da Estação do Trem.
Meu pai era fiscal e minha mãe era a madrinha de um dos filhos do pessoal do armazém, não lembro do nome agora. Lembro que ele convidou a gente pra ir morar numa casa bem grande que tinha logo depois da estação na subida de uma ladeira. Era mal-assombrada, lembro até hoje da minha mãe dizendo que ouviu a porta bater e outras coisas.

Disse isso e riu e eu ri junto. Lembrei que as pessoas que moraram lá sempre fizeram esse comentário.
E ela continuou... Era uma alegria quando o trem chegava, a gente ficava só esperando dar a hora. Vê as pessoas descendo do trem. Lá em Sertãozinho também, fiquei triste quando derrubaram a estação de lá, chorei e tudo.
Ela também lembrou de pessoas, sobrenomes de famílias da época que morava lá em Sertãozinho. Já chegando sua parada, perguntei qual era o seu nome, Lourdinha, ela disse. Infelizmente esqueci de perguntar seu sobrenome. Mas ainda perguntei sua idade, e me disse, 74 anos. Desceu lá na parada do Extra. Ia visitar a irmã, que mora pertinho dali.
Fiquei admirada com a memória que ela tinha pra fatos, nomes, situações que viveu. Parece que a infância dela foi realmente marcante. Tanto quanto foi a minha, em Duas Estradas. Por isso que amo tanto minha terra e carrego comigo um pedacinho dela pra onde eu for.

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